Nota da Comissão Brasileira Justiça e Paz - O MOMENTO POLÍTICO E A RELIGIÃO

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Recebi este texto através de um email da Ir. Zélia Maria Batista (CNBB).
Achei interessante publicá-lo aqui, pois desde que a Igreja resolveu se pronunciar nestas últimas eleições, as pessoas ficaram ainda mais confusas e por que não dizer, alienadas.
Acredito numa religião libertadora. Em todos os sentidos, mas confesso que fique um pouco decepcionada com a forma com que tudo isso foi conduzido.
Não sei quem errou. Se foi a CNBB, se foram os líderes ou se foram aqueles que acreditam em tudo que vem daqui e dali.
É preciso rever como orientar os fiéis, para não desorientá-los. A Igreja e a Escola, ao meu ver tem um papel relevante na construção da cidadania, mas indicar e até citar coisas improváveis no momento político em que vivemos, pareceu de fato dizer: votem neste !!!
Vivemos num país onde o voto é um ato obrigatório. É nele que podemos selar o destino da nação. É nele mesmo, eu bem sei, pois não importa muito o que aconteça, muitos de nós vai apenas lamentar e na próxima eleição votar, esquecendo das CPIs.
Iniciativa brilhante da Igreja certamente foi o Campanha Ficha Limpa. A isso sim devemos estar atentos, mas em sacerdotes que em missas televisivas anunciam: "Quem votar na Dilma será excomungado", não devia ter o mínimo de crédito. Deveriamos até questionar : Até onde podemos usar a liberdade quem Deus nos deu?
Mas dentro das nossas Igrejas (nossas e dos outros) existem inúmeros alienados, frutos da neoconversão, da falta de senso crítico e de peneira. Isso mesmo: peneira! É preciso analisar o que veem vomitando em nós, principalmente a mídia. A peneira é um instrumento que nos auxilia a separar as coisas.
Como eu acredito em religião libertadora eu digo e repito: eu voto em quem eu quiser e se não há porquê votar neste ou naquela, usem argumentos sólidos, instruam melhor seus líderes e não deixem nosso povo atônito diante dos dramas representados em nossos presbitérios.
Ainda bem que eu sou livre!
Clécia Ribeiro

“Amor e Verdade se encontrarão. Justiça e Paz se abraçarão" (Salmo 85)

A Comissão Brasileira Justiça e Paz (CBJP) está preocupada com o momento político na sua relação com a religião. Muitos grupos, em nome da fé cristã, têm criado dificuldades para o voto livre e consciente. Desconsideram a manifestação da presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil de 16 de setembro, “Na proximidade das eleições”, quando reiterou a posição da 48ª Assembléia Geral da entidade, realizada neste ano em Brasília. Esses grupos continuaram, inclusive, usando o nome da CNBB, induzindo erroneamente os fiéis a acreditarem que ela tivesse imposto veto a candidatos nestas eleições.
Continua sendo instrumentalizada eleitoralmente a nota da presidência do Regional Sul 1 da CNBB, fato que consideramos lamentável, porque tem levado muitos católicos a se afastarem de nossas comunidades e paróquias.
Constrangem nossa conciência cidadã, como cristãos, atos, gestos e discursos que ferem a maturidade da democracia, desrespeitam o direito de livre decisão, confundindo os cristãos e comprometendo a comunhão eclesial.
Os eleitores têm o direito de optar pela candidatura à Presidência da República que sua consciência lhe indicar, como livre escolha, tendo como referencial valores éticos e os princípios da Doutrina Social da Igreja, como promoção e defesa da dignidade da pessoa humana, com a inclusão social de todos os cidadãos e cidadãs, principalmente dos empobrecidos.
Nesse sentido, a CBJP, em parceria com outras entidades, realizou debate, transmitido por emissoras de inspiração cristã, entre as candidaturas à Presidência da Republica no intento de refletir os desafios postos ao Brasil na perspectiva de favorecer o voto consciente e livre. Igualmente, co-patrocinou um subsídio para formação da cidadania, sob o título: “Eleições 2010: chão e horizonte”.
A Comissão Brasileira Justiça e Paz, nesse tempo de inquietudes, reafirma os valores e princípios que norteiam seus passos e a herança de pessoas como Dom Helder Câmara, Dom Luciano Mendes, Margarida Alves, Madre Cristina, Tristão de Athayde, Ir. Dorothy, entre tantos outros. Estes, motivados pela fé, defenderam a liberdade, quando vigorava o arbítrio; a defesa e o anúncio da liberdade de expressão, em tempos de censura; a anistia, ampla, geral e irrestrita, quando havia exílios; a defesa da dignidade da pessoa humana, quando se trucidavam e aviltavam pessoas.
Compartilhamos a alegria da luz, em meio a sombras, com os frutos da Lei da Ficha Limpa como aprimoraramento da democracia. Esta Lei de Iniciativa Popular uniu a sociedade e sintonizou toda a igreja com os reclamos de uma política a serviço do bem comum e o zelo pela justiça e paz.
Brasília, 06 de Outubro de 2010.
Comissão Brasileira Justiça e Paz,
Organismo da CNBB

2 comentários:

Anônimo disse...

Concordo inteiramente com o texto; sou católica, mas não acredito que por seguir a religião devo ser "conduzida" a votar neste ou noutro candidato... Além do mais, as questões usadas para nos influenciar são de cunho exclusivamente político, e não religioso, uma vez que, no Brasil, o estado seja laico. Perdem tanto tempo querendo difamar um candidato e se esquecem de por a mão na massa quanto a essas mesmas mulheres a quem dizem tão preocupados...

Joel Duarte Benísio disse...

Parabéns ao blog, pela oportuna referência ao momento político que vivemos. Foram muito felizes nas considerações a respeito da atitude da ala conservadora de nossa Igreja, sempre alienada, antiprogressista, que por sinal estão a serviço da maioria dominante. Mais que informar e fornecer material para a discussão política, essa é a missão da Igreja; esta Igreja dita renovada se comporta como um feroz partido de oposição.O que está em jogo neste enfrentamento entre a "Igreja" e Lula/Dilma é a questão: Que Brasil queremos? Aquele injusto, neoglobalizado e no fundo, retrógrado ou o Brasil novo com sujeitos históricos novos, antes sempre mantidos à margem e agora despontando com energias novas para construir um Brasil que ainda nunca tínhamos visto antes. Causa estranheza a opção da Igreja pela elite capitalista desse país, escondido através de temáticas que versam sobre a vida. Estando a serviço de um bloco histórico, assentado sobre o capital que sempre explorou o povo e que não aceita um Presidente que vem deste povo.
A igreja em seus documentos faz opção preferencial pelos pobres. Maria nossa mãe canta em favor dos pobres e oprimidos.
Rezemos e lutemos com a força do povo e da verdade, para que essa Igreja sinta-se encorajada pelo ardor missionário e iluminados pelo mestre Jesus,sejam curados e perdoados pelas suas posições em defesa daqueles que oprimem o povo de Deus.Assim seja! Amém.

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Que a graça e a paz de Nosso Senhor Jesus Cristo lhe acompanhem!
Seu comentário é precioso.
Muito obrigada!
Afetuosamente,
Clécia e Sandra

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