Testemunhando

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Há muitos anos atrás eu vivi um dos momentos mais difíceis da minha vida. E por que contar só agora? Porque senti a necessidade de testemunhar o amor de Deus para os demais e até para mim mesma, reavivando a certeza que Ele não nos abandona jamais.
Era tarde de um dia qualquer, tinha acabado de chegar da escola em que trabalho e de repente comecei a ter uma hemorragia. Não sentia dor, apenas sangrava de maneira assustadora. Chamei minha mãe que foi logo diagnosticando: “Você deve estar com mioma!”. Fazia quatro meses que tinha feito exames ginecológicos de rotina e estava tudo bem.
Fomos ao posto médico. Em menos de duas horas utilizei três pacotes de absorventes tentando conter o fluxo que me deixava apavorada. Durante o atendimento, o médico exigiu que minha mãe saísse da sala. Ele nem me examinou, apenas me olhou e queria que eu admitisse um aborto, enquanto isso eu tentava convencê-lo que era virgem.
Ainda sem acreditar ele prescreveu duas injeções e disse que se eu estivesse mentindo ia ter problemas. Ao retornar para casa, era noite. Não dormi, a imagem sangrenta não saia da minha cabeça e eu tinha medo de adormecer e sangrar até morrer.
Dali a alguns dias eu faria alguns exames. De fato, tinha um pequeno mioma subseroso. Algumas mulheres da minha família tiveram miomas, mas isso surgiu depois dos 30, eu na ocasião tinha apenas 24 anos. No entanto, meu problema não estava resolvido já que o tipo de mioma que tenho não era a causa do sangramento.
O tempo passava. Eu conheci alguns médicos, fiz vários exames. Estava sempre anêmica, já que tivera outras hemorragias terríveis aqui e ali, chamando a atenção onde quer que estivesse. Os médicos sempre diziam que o fato de ser virgem dificultava o diagnóstico, pois eu poderia fazer todo tipo de exame. E eu, já meio chateada com isso só pensava: “Senhor, não é possível que ser virgem seja algo ruim!”.
Depois desses episódios eu haveria de questionar tantas outras vezes até onde seria vantagem cultivar a virgindade, a castidade. Tenho fé que Deus há de me perdoar por esses pensamentos infelizes.
Diante da minha dor, meditava inúmeras vezes o Evangelho segundo São Marcos (5,1-20). Suplicava que o Senhor me deixasse tocar Sua veste e também me curar, como fizera com aquela mulher da passagem bíblia. No entanto, muita coisa eu ainda deveria viver!
A minha última ginecologista é expert em um monte de problemas uterinos. Tinha fé que ela conseguiria uma solução. De imediato, ela decidiu que eu devia parar de menstruar por tempo indeterminado e me receitou um anticoncepcional.
O fato é que depois de usar a medicação eu passei a sangrar todos os dias. Embora tentássemos parar o sangramento com algumas medicações, de nada adiantou. Todos os dias eu estava menstruada, foi assim por mais de seis meses. Ouvi novamente que a virgindade atrapalhava o diagnóstico.
Nesse período, nosso pároco havia mudado. O sacerdote que aqui chegou celebrava uma Missa nas quintas ao meio dia, era a chamada Missa da Misericórdia, com adoração ao Santíssimo Sacramento e uma bênção com Jesus Eucarístico passando em nosso meio.
Minha mãe, exemplo de fé e paciência, me incentivava a ir a Igreja às quintas. Mas eu meio que relutante achava que se Deus quisesse me curar, poderia ser em qualquer lugar. Hoje eu creio que Ele nos quer diante Dele, diante do Sacramento do altar. No local e hora que Ele determinar e não quando eu achar que posso ou devo, no meu comodismo cotidiano.
Depois de meses, lá estava eu. Cheguei um pouco atrasada, resolvi ficar bem à frente, antes dos primeiros bancos, como nunca fiz. A Igreja estava lotada. Entoaram um louvor: “Te adorarei meu Deus, enquanto eu existir proclamarei as maravilhas que fizeste em mim.” Senti uma forte emoção, própria daquelas quando há entrega, me senti entregue.
Comovida, apenas pedia que se fosse da vontade Dele, que minha médica descobrisse um jeito de me ajudar. Sentia-me em paz. Senti-me tocada. Voltei pra casa com a sensação de ter feito um bem enorme a minha própria vida. Tinha confiança de que teria boas notícias na próxima consulta e que não mais ouviria: “Tua virgindade atrapalha o diagnóstico!”.
No dia seguinte, embora estivesse confiante, preparei meu corpo mais uma vez para o sangramento cotidiano. Nada acontecia. As horas passavam e nada acontecia. Fiquei calada, quietinha, tinha medo até de me emocionar e voltar a sangrar. Passou um dia, e outro, depois outro. Sim, Deus ouviu meu clamor e certamente as orações de minha mãe e daqueles que acompanhavam a minha história foram fundamentais!
Chegou o dia da consulta e a médica dizia não saber o que houve, mas que estava tudo bem sim. Meu útero ainda tinha o mioma, mas havia diminuiu o volume. Enfim, estava tudo normal. Eu pensava apenas: “É, a senhora não sabe o que houve, mas eu sei!”. Insistente em saber da minha intimidade ela perguntava já argumentando: “Por que você ainda é virgem? É falta de tempo, de namorado? Você é muito ocupada né?”. Eu, bem mais tranquila apenas disse: “Não, é convicção mesmo!”.
Poucas pessoas sabem o que houve de fato comigo. Outro dia, conversando com uma senhora, ela me chamava atenção dizendo que é preciso testemunhar para glorificar a Deus e ser exemplo de perseverança para os demais. Talvez seja isso mesmo. Só espero ser fiel a Deus, nos momentos de alegria e jubilo e principalmente na dor e na angústia.
Embora pareça vaidade, o ato de testemunhar revela a grandiosidade de Deus, que tudo pode e tudo faz para o bem daqueles que creem. É preciso crer, louvar e agradecer. O sofrimento muitas vezes é uma forma de nos aproximar de Deus e fazer com que nos voltemos para Ele com confiança!
Diante de tudo isso me fiz mais especial pra Deus? Claro que não! Todos nós somos especiais e Ele tem nos presenteado todos os dias com inúmeras bênçãos e milagres, os quais muitas vezes acabamos desvalorizando, achando que só importa o que é “sobrenatural”.
É só olhar ao redor e ver quantas maravilhas Ele tem feito por nós: Curas, prodígios, milagres, o dom da vida, a natureza, a paz interior, a família, a graça de perdoar. Por todas essas santas maravilhas, que Ele nos ajude a perseverar e renovar a fé a cada dia!

Clécia Ribeiro

6 comentários:

Equipe Catebrincando disse...

Olá Clécia, Deus abençoe vc sempre querida.
Seu testemunho é lindo, fiquei muito emocionada ao ler o que vc escreveu. Estou muito feliz por vc ter recebido essa Graça maravilhosa. A paz de Jesus, bjs Lurdes

Imaculada Cintra disse...

Minha querida e amada Clécia... amei ler seu testemunho, e que bom que te conheço um pouco mais a partir de agora... Vc deve testemunha sim, principalmente por que hoje em dia a castidade é vista como algo impossível, careta...Acho até, que vai chegar o dia em que nossa juventude vai valorizar mais essa espera, deixando que tudo ocorra no tempo certo... Essa é a grande alegria, viver essa expectativa do momento certo, com a pessoa certa e acima de tudo no tempo de Deus...
Amei, amei, amei...
....mas, as estrelinhas, rsrrsrs, elas atrapalham um pouco a leitura....srrsrsr
]Beijo amada minha!!

Gi disse...

Olá querida Clécia, como é bom ouvirmos testemunhos como o seu de Fé e amor. Fiquei muito emocionada com o seu testemunho e me leva a pensar em quantas vezes nós tornamos as coisas tão difíceis por falta de fé. bjus e Deus continue te abençoando.

Janie disse...

' És prova de que Deus faz sim, milagres extraordinários em nossa vida... basta confiar, esperar e entregar-se por completo. Deixar Ele entrar e fazer maravilhas. Boa partilha, um verdadeiro testemunho arrasta multidões.

catequese disse...

Amém, Amém, Amém......bjos Clécinha, Shenia.

Kátia Lima disse...

Lc 1, 37 - "Porque para Deus nada é impossível". Também vivi um momento de absoluta conclusão da interferência de Deus na minha vida, quando na sala de parto, eu com um ovário só, fico sabendo de minha médica que minha trompa relativa àquele ovário era colabada, ou seja, eu não poderia ter engravidado por ela e sim que, como num balé, a outra trompa "pescou" o óvulo que gerou meu filho, hoje com 9 anos. Somos agraciadas sim, sempre, todos os dias e temos obrigação sim de louvar constantemente Nosso Senhor da Vida!
Beijos,

Kátia (Paróquia Cristo Redentor)

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Que a graça e a paz de Nosso Senhor Jesus Cristo lhe acompanhem!
Seu comentário é precioso.
Muito obrigada!
Afetuosamente,
Clécia e Sandra

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