O Sacramento da Unção dos Enfermos

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Conheci há algum tempo o site do D. Henrique Soares da Costa, Bispo Titular de Acúfica e Auxiliar de Aracaju. Ele diz o seguinte em sua descrição:
“Quando iniciei este site era sacerdote da Igreja Arquidiocesana de Maceió. Por isso, mesmo eleito Bispo, não mudei o seu nome: ‘padrehenrique.com’...
Pensei este espaço na Rede como um meio de partilhar com outros, irmãos na fé e demais pessoas de boa vontade, um pouco de minha experiência de vida e das coisas que pensei e aprendi ao longo do meu ministério sacerdotal. Penso que a internet pode ser um excelente instrumento de aproximação sadia entre as pessoas, de troca de experiências e idéias, bem como um meio oportuno e eficaz da evangelização.
Ao lado de tantos sites católicos de excelente qualidade, coloco à sua disposição mais este, como uma modesta partilha de irmão. É um site pensado primeiramente para o(a)s católico(a)s; mas aqui, todos e todas são bem-vindo(a)s!”

Compartilho com vocês agora, uma reflexão sobre o sacramento da UNÇÃO DOS ENFERMOS. Sacramento tão belo, mas ainda incógnito para muitos, inclusive catequistas.


Apreciem:
Vamos (...) refletir sobre a Unção dos Enfermos, antigamente chamada de Extrema Unção. Trata-se de um sacramento tão desconhecido, mas de um sentido belíssimo.
Comecemos com uma afirmação do Concílio Vaticano II, citado pelo Catecismo da Igreja Católica: “Com a sagrada unção dos enfermos e a oração dos presbíteros, toda a Igreja recomenda os doentes ao Senhor sofredor e glorificado, para que ele os alivie e salve, e exorta-os a unirem-se livremente à paixão e morte de Cristo, e a contribuírem assim para o bem do Povo de Deus” (Lumen Gentium 11; Catecismo, 1499). Aprofundemos o significados dessas palavras. A doença faz parte da vida, mas é sempre uma experiência dolorosa: ela nos enfraquece, baixa nosso moral e nos revela sempre de novo nossa impotência, nossos limites e a fragilidade de nossa vida. Em certo sentido, toda doença nos coloca diante da possibilidade e da realidade da morte. E há tantos modos de enfrentar a doença: pode-se vivê-la com amargura, com revolta, com espírito derrotista ou, pode-se vivê-la como uma ocasião de amadurecimento, de reflexão sobre a vida e, para um cristão, a doença pode aparecer como um modo de participar da paixão do Senhor em benefício de toda a Igreja e da humanidade.
Aqui entra o Sacramento da Unção: o óleo é símbolo da graça do Espírito Santo, Espírito de força e de consolação (ele é o Paráclito, Consolador). Este Espírito é o Espírito do Cristo morto e ressuscitado. Pois bem, ele dá ao enfermo a força e a graça de fazer de sua doença um modo de participar da paixão do Senhor. Assim, a Unção dos Enfermos é um sacramento que nos une à Páscoa do Senhor, como já dizia São Paulo: “Agora eu me regozijo nos meus sofrimentos por vós, e completo na minha carne, o que falta das tribulações de Cristo pelo seu Corpo, que é a Igreja” (Cl 1,24). “Cristo será engrandecido no meu corpo, pela vida ou pela morte. Pois para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro” (Fl 1,20s). “Fui crucificado junto com Cristo. Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim” (Gl 19b-20a). Desse modo, a doença é vivida pelo paciente com um sentido positivo, pascal, salvífico: um modo privilegiado de participar da paixão e cruz do Senhor, para com ele chegar à glória da ressurreição. Triste na vida não é sofrer, mas sofrer sem ver um sentido nesse sofrimento. O Sacramento da Unção dá um sentido cristológico, um sentido positivo à doença e à dor. A debilidade humana é, assim, transfigurada em Cristo, assumindo um aspecto de força na fraqueza e dando ao enfermo a tranqüila serenidade de quem sabe que seu calvário terminará na ressurreição. Ainda mais: o sacramento une o fiel sofredor à Igreja, já que ele completa em seu corpo o que faltou das tribulações de Cristo em benefício do seu corpo, que é a Igreja (cf. Cl 1,24).
Mas, vejamos de modo mais detalhado alguns aspectos e elementos desse Sacramento.

Quais os fundamentos bíblicos desse sacramento?
No Antigo Testamento, a doença aparece como ocasião para que o homem experimente sua pobreza e, derramando suas lágrimas diante do Deus da vida, obtenha ajuda e socorro. Assim, a doença torna-se caminho de conversão e o perdão de Deus pode dá início à cura (cf. Sl 6,3; Is 38; Sl 32,5; 107,20). Sem querer dizer que a doença é conseqüência direta e automática do pecado, a Escritura deixa claro que existe uma ligação entre o modo como enfrentamos a realidade negativa da doença e o mundo de pecado no qual vivemos. O sofrimento é visto, às vezes, como meio de redimir os pecados nossos e dos outros. É o caso dos sofrimentos do Servo sofredor: “Pelas suas feridas, fomos curados” (Is 53,5).
No Novo Testamento, Cristo Jesus apresenta-se como aquele que vem inaugurar o Reino dos céus: reino de vida e felicidade, de alegria e de paz. Por isso ele não somente cura, mas também perdoa os pecados, a maior de todas as doenças! (cf. Mc 2,5-12). Ainda mais: ele, na sua misericórdia, se identifica com os doentes: “Eu estava doente e me visitastes” (Mt 25,36). Aos doentes, Jesus pedia que cressem e, às vezes, os curava, com o sinal de que o Reino dos céus havia chegado. Os doentes chegavam mesmo a tocar nele, pois nele repousava o Espírito Santo, como força que a todos curava (cf. Lc 6,19).
Ora, Jesus não somente curou os enfermos como sinal da chegada do Reino de Deus, como também ordenou que seus discípulos fizessem o mesmo (cf. Mc 6,12s; 16,17s). Além desse mandato geral do Senhor, há aqueles que, na Igreja, recebem um especial carisma para realizar curas em nome do Senhor Jesus (cf. 1Cor 12,9.28.30). No entanto, o Senhor é sempre livre para conceder ou não a crua. Às vezes, nem a oração mais insistente, pode obter a cura. Pense-se no caso de São Paulo, que depois de pedir e pedir, recebe do Senhor, como resposta que basta ao Apóstolo a sua graça, pois na fraqueza manifesta-se a força de Deus (cf. 2Cor 19,2). Então, que fique claro: ninguém tem o direito de “forçar” Deus a realizar um milagre. Deus é soberano também aí! E tristes de nós se nossa fé e confiança nele dependerem de milagres....
Pois bem, a Igreja procura cumprir a ordem de curar os doentes (cf. Mt 10,8), dada por Cristo, seja cuidando dos enfermos, seja intercedendo por eles na oração, pois crê na presença vivificante de Cristo, médico do corpo e da alma. Ele está presente sobretudo nos sacramentos e, de modo especial, na Eucaristia, que serve de remédio até para o nosso corpo (cf. 1Cor 11,30). Mas a Igreja, desde os tempos doa Apóstolos conhecia também um rito próprio em favor dos enfermos, tal como nos diz a Epístola de São Tiago: “Alguém dentre vós está doente? Mande chamar os presbíteros da Igreja para que orem por ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor. A oração da fé salvará o doente e o Senhor o porá de pé; esse tiver cometido pecados, estes serão perdoados” (Tg 5,14-15). A Tradição eclesial, desde os primeiros tempos, reconheceu neste rito um dos sete sacramentos, tendo sua raiz na ordem do próprio Cristo de ungir e curar os doentes (cf. Mc 6,12s; Mt 10,8).

O que a Igreja ensina sobre a Unção dos Enfermos?
A Igreja crê e professa que existe, entre os sete sacramentos, um sacramento destinado de modo especial a confortar aqueles que sofrem provados pela doença, a Unção dos enfermos. O efeito deste sacramento é conferir o dom do Espírito Santo, simbolizado pelo óleo e a imposição das mãos. Aí o Espírito é dado como conforto, paz e coragem para que o enfermo possa suportar de ânimo sereno a sua doença e fragilidade, unindo-se ao Cristo no mistério de sua paixão, completando, assim, na sua carne, o que faltou à paixão do seu Senhor. Portanto, o sacramento da Unção ajuda a viver no momento da dor o próprio sacramento do Batismo, quando fomos unidos a Cristo na sua morte e ressurreição, bem como a prolongar na nossa existência o sacrifício do Cristo Jesus que comungamos no seu Corpo que partimos e no seu Sangue que repartimos! O fiel que sofre já não se desespera nem se amargura, pois sabe que está unido ao seu Senhor, sofrendo com Cristo para com Cristo reinar!
Assim, a Unção traz a cura do coração, isto é, da alma e, segundo a vontade de Deus, também do corpo: é o sacramento da saúde da alma e do corpo! Além do mais, é de grande consolo e ajuda, o fato de o enfermo experimentar a oração de toda a Igreja que por ele reza e a ele se une na sua enfermidade, intercedendo pela sua cura e libertação.

Quem deve receber este Sacramento?
Devem receber a Unção primeiramente aqueles fiéis católicos que se encontram num estado de doença grave e até mesmo em perigo de morte. Também aqueles que já se encontram num estado de certo perigo de morte devido à idade avançada. Neste caso, a sagrada unção os ajuda a viver a fragilidade da idade e os achaques da velhice com paciência, coragem e generosidade, participando dos sofrimentos do Cristo. Finalmente, aqueles fiéis que devam submeter-se a uma intervenção cirúrgica séria ou que traga risco de vida.
Este sacramento pode ser repetido na mesma pessoa, tantas vezes quantas sejam necessárias.
É importante observar que não se pode administrar o sacramento a uma pessoa que já esteja morta. Os sacramentos somente podem ser administrados aos vivos! Em caso de morte naquele momento, e se persistir a dúvida se a pessoa morreu ou se ainda está viva, deve-se, então, administrá-lo!

Quem é o ministro da unção?
Ministros deste Sacramento são os que receberam o sacerdócio ministerial, ou seja, o Bispo e os presbíteros (os padres). O primeiro responsável pela administração deste Sacramento é o pároco, que deve ter o cuidado de atender àqueles que o solicitam e até mesmo conscientizar os fiéis de sua paróquia para a necessidade de recebê-lo. Na impossibilidade de o pároco administrá-lo por algum motivo, pode-se e deve-se chamar um outro padre.
É também muito recomendável que alguns leigos da comunidade estejam presentes, pois é toda a Igreja que reza pelo enfermo.

Como se celebra a Unção?
Quer num hospital, na igreja ou em casa, a celebração da Unção é sempre um ato litúrgico e, portanto, comunitário. O ideal seria celebrar o Sacramento dentro da Celebração eucarística e depois de ter confessado o enfermo. Não sendo possível, celebra-se somente a Unção e, sempre que possível, dá-se a comunhão ao doente.
Quanto ao rito, a celebração começa com um ato penitencial, como na Missa, depois, uma liturgia da Palavra. A parte mais importante da celebração consta da imposição das mãos sobre o doente, suplicando a graça do Espírito e a unção com o óleo dos enfermos na fronte e na palma das mãos do enfermo. Este óleo é abençoado pelo Bispo na Missa do Crisma, na Quinta-feira Santa. Se o óleo não estiver abençoado, o padre pode abençoá-lo no momento da celebração do Sacramento. Após a unção, reza-se pelo enfermo e conclui-se com o Pai-Nosso.
O sacerdote deve administrar este sacramento como administra os outros: de túnica e estola branca ou de batina, sobrepeliz e estola. Se não é possível, que não use uma estola por cima da veste civil ou do clergyman – seria um abuso.

E o viático?
A palavra “viático” vem do latim “viator” (viajante). É a comunhão dada ao enfermo que se acha em grave perigo de morte. O ideal seria dar esta comunhão na Missa celebrada junto ao doente. No ato penitencial concede-se ao enfermo a absolvição de todos os seus pecados com uma indulgência plenária e, no momento da comunhão, o celebrante diz: “O Corpo de Cristo te guarde para a vida eterna”. O sentido é belíssimo: o Cristo faz-se alimento para aquele que viaja para a Casa do Pai, faz-se viático, alimento de viagem. Unidos a ele na Eucaristia, sabemos que seremos conduzidos à Vida Eterna.
Então, não se deve confundir o viático com a comunhão que os ministros extraordinários levam aos doentes. Quando o padre administra a Unção a um doente grave, é aconselhável que lhe dê a comunhão na forma de viático.
A Igreja ensina que todo fiel católico tem o direito e o dever de, antes da morte, comungar no Corpo do Senhor. Pena que isso ande meio esquecido!
Assim concluímos nossa apresentação da Unção dos Enfermos.

Pe. Henrique Soares da Costa

1 comentários:

Nena Foggiatto disse...

Ola amigas!
Muito boa essa reflexão,a catequese da minha paróquia está em ferias, quando voltar vou começar
estudar com a minha turma os sacramentos,essa reflexão será de grande valia,obrigado por partilhar. Beijos Nena

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Que a graça e a paz de Nosso Senhor Jesus Cristo lhe acompanhem!
Seu comentário é precioso.
Muito obrigada!
Afetuosamente,
Clécia e Sandra

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