"Eu sou o Bom Pastor"

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A forte afirmação de Jesus “Eu sou o Bom Pastor” tem um pano de fundo na história do povo de Israel, contida nas Sagradas escrituras e, por isso, possui forte significado no contexto em que ela foi proferida. Também ela é retomada no Novo Testamento, afirmando-a, como encontramos, por exemplo, em Hb 13, 20: “O Deus da paz, que tirou da morte o grande pastor do rebanho, o Senhor nosso Jesus [...]”, e também em Pd 5, 4: “Quando se revelar o Pastor supremo [...]”.


O discurso de Jesus é similar ao que se encontra em Ez 34, que apresenta a imagem dos Pastores em Israel. Deus “se mostra indignado” com o tratamento dado às suas ovelhas, percebendo-as dispersas, sem cuidado. O mais importante, porém, é a promessa feita por Deus que se realiza em Jesus Cristo: “Assim diz o Senhor: Eu em pessoa buscarei minhas ovelhas seguindo seu rastro. Como pastor segue o rastro de seu rebanho quando as ovelhas se dispersam [...]” (Ez 34, 12).


As ovelhas que estavam ser pastor (cf Mc 6 14 – 29) encontraram segurança, alimento, proteção, cumprimento da promessa, em Jesus. Mas, podemos levantar questionamentos: O pastoreio de Jesus é continuado? A quem se designou esse ofício, após morte, ressurreição e ascensão do Senhor? Aqui se encontra a fundamentação para o que a Igreja chama de Ação Pastoral.


A continuidade da missão de Jesus se dá nos seus Apóstolos. O contexto que o Marcos apresenta é bastante interessante para tal compreensão. Em termos de números, os seguidores de Cristo cresciam consideravelmente e, em determinado momento, sentiu-se a necessidade material do pão: “Os discípulos foram dizer-lhe: o lugar é despovoado e a hora avançada; despede-os, para que vão aos campos e às aldeias dos arredores para comprar o que comer” (Mc 6, 35 – 36). A pronta resposta de Jesus revela os desígnios de Deus para a Igreja: “Dai-lhes vos mesmos de comer” (Mc 6, 37).


Podemos identificar aqui uma crescente compreensão: Deus, que fala ao povo prometendo que “Ele mesmo” cuidará das ovelhas, cumpre a sua Palavra, se encarna, vive no meio da humanidade, “as ovelhas” o reconhecem e, por isso, procuram Jesus insaciavelmente, e, Cristo, acompanhado dos seus arremata “Vós mesmos”.


A ação pastoral da Igreja, se pode dizer, em termos simples, mas acertados e profundos, é o cuidado de Deus com os homens, através da missão dessa mesma Igreja, através dos Apóstolos e, claro, de toda a Igreja. No prefácio dos Apóstolos, recitado na liturgia, reza-se: “Pastor eterno, não abandonais o rebanho, mas o guardais constantemente pela proteção dos Apóstolos. E assim a Igreja é conduzida pelos mesmos pastores que pusestes à sua frente como representantes de vosso Filho, Jesus Cristo, Senhor nosso”.


Como missão de toda a Igreja, o pastoreio de Cristo se dá através do testemunho de fé que os membros da mesma apresenta. A Gaudium et Spes diz que a Igreja comunica ao mundo a vida divina, mas também “irradia a sua luz, de certo modo, refletida no mundo inteiro, principalmente porque restabelece e eleva a dignidade da pessoa humana, fortalece a coesão da sociedade humana e reveste de sentido mais profundo e de significação a atividade cotidiana dos homens. Deste modo, através de cada um de seus membros e de toda a sua comunidade, a Igreja acredita poder ajudar muito a tornar mais humana a família dos homens e sua história” (GS, 323).


É o cuidado de Deus na humanidade. O povo continua sedento, e a fome do mundo é cada vez mais complexa e desafiadora: diz respeito ao pão material, mas, sobretudo, ao pão da dignidade, do AMOR. A Igreja é convocada a dar continuidade, pois, nela se encontra também o cumprimento da palavra de Jeremias “Dar-vos-ei Pastores segundo o meu coração” (Jr 3, 15).

Flávio Porto


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Que a graça e a paz de Nosso Senhor Jesus Cristo lhe acompanhem!
Seu comentário é precioso.
Muito obrigada!
Afetuosamente,
Clécia e Sandra

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