Uma das invenções que mais sou encantado, mesmo que se enumerem centenas que são mais espetaculares e complexas, é a máquina fotográfica.
Como uma caixinha tão pequenininha e invocada joga para dentro de si uma paisagem, dar um stop na ação e aquele dado momento fica guardado para sempre? Tá, eu sei que a pergunta é inocente e que qualquer site de buscas pode me dar uma resposta ao meu alcance de entendimento. Mesmo assim, o meu fascínio continuará.
Eu gosto muito de fotografias! Muito mesmo!
As minhas têm a capacidade (entre aspas) de dar um F5 em momentos que foram fortes e que geraram sentimentos inesquecíveis. A imagem atualiza o sentimento no coração. Olho para as expressões e quase posso ouvir as vozes daqueles momentos agora estáticos no papel.
Ao mesmo tempo, quero questionar esse maravilhoso poder da máquina fotográfica e das possibilidades que uma foto oferece, muito mais por causa de uma pecinha que fica manuseando a máquina: Nós, os utilizadores.
O primeiro motivo é que estamos substituindo a “gostosura” das experiências pela “belezura” das imagens.
Lembro-me aqui de um momento engraçado: estávamos todos lá; Sexta-feira da Paixão; Campo de futebol lotado; Depois de um dia de oração e penitência na Igreja, os jovens encenavam a Paixão de Cristo para o bairro; Tornava-se um forte momento de evangelização e vivência da Semana Santa. Ele já estava na cruz; Tinha dialogado com os ladrões; Bebido vinagre... A trilha sonora dava um tom dramático à cena. O público não piscava; E entre um gemido e outro, Jesus volta-se para o lado e com a boca quase fechada sussurra para a equipe de apoio da apresentação: - A fotooooo!!!!
“Hã... Não seria a parte da entrega do Espírito?!?” deve ser a sua pergunta e foi a nossa também. Ela ficou presente por um bom tempo em nossas resenhas de grupo.
Contei isso para dizer algo. Podemos comprometer um momento tão especial pela necessidade de um registro do mesmo. No caso do nosso Jesus não aconteceu, pela esperteza e discrição do nosso colega e outros fatores que passasse despercebido (menos para nós, é claro).
Mas em outros momentos, na sua maioria, não acontece assim. E aqui cheguei onde queria: as nossas ações litúrgicas e celebrativas. Quer ver?!?
É só pensarmos nos pais e padrinhos pousando para as fotos nos momentos das orações e explicações do rito do batismo (tão profundas), sem nenhuma atenção devida; Nos adolescentes em sua primeira comunhão, na hora de receber a Eucaristia, parados com a boca aberta, mas com os olhos lá no fotógrafo, buscando o melhor ângulo; Nos noivos desajeitados que têm que colocar a aliança, falar certinho as palavras, administrar o nervoso e, acima de tudo, serem simpáticos para as lentes; Em nós quando voltamos de algum lugar e não sabemos expressar as experiências porque só temos para mostrar só as fotos...
E, principalmente, na absurda deselegância dos fotógrafos que se tornam um show à parte nas celebrações. Oficiais ou não (porque com um celular todo mundo virou fotógrafo), conseguem cumprir o “custe o que custar”pela imagem, atrapalhando a visão, invadindo espaços, quebrando ritmos litúrgicos, roubando a atenção das pessoas.
Há alguns dias, acompanhei a luta de um padre (para ser dramático) com um batalhão de gente, antes de iniciar a sua homilia. Ele queria que as pessoas se sentassem e prestassem atenção ao que iria ser dito e “no final da missa poderiam tirar uma foto” (promessa dele). Minha gente, era luta mesmo. Sem exageros, acho que ele usou mais de 10 minutos para convencer as pessoas. E um dos seus argumentos eu “fotografei” em minha mente: “A foto mais importante que vocês devem levar daqui é a de Cristo e essa só pode ser tirada pelo coração”, disse o sensato e quase aborrecido padre.
Essa maravilhosa invenção está comprometendo as nossas celebrações litúrgicas. Elas estão lá no computador, todas digitalizadas, porém, tão menos vivenciadas.
Antes que alguém desista de ler todo o comentário, quero lembrar que sou apaixonado por fotos e vejo nelas uma validade tão grande. A pergunta é: o que pode ser feito para as “gafes litúrgicas fotográficas” não roubem a cena da foto principal?!? Aqui vem a minha primeira comunhão e minha crisma... Olho para as poucas fotos que tenho (não tínhamos máquina digital e o pouco dinheiro não permitia um book), e tenho a gostosa lembrança das celebrações... do friozinho na barriga quando chegou perto da comunhão, ou de quando o bispo foi ungir minha testa, dos seus olhos grandes me olhando e exortando à vida cristã, da Igreja cheia de flores... Fotos que estão dentro de mim e que não se apagarão. Mesmo que as esqueço, as suas marcas serão pra sempre. É claro que, se eu pudesse ter uma foto melhorzinha seria bom, porque as minhas são tão “feinhas” (brincadeirinha).
Demais dizer que é um desafio a ser pensado?!? Acho que não!
Para os catequistas pode ser também de conscientização nos momentos que antecedem as celebrações. Podemos ajudar pais e padrinhos, catequisandos, a viverem uma saborosa experiência com os sacramentos. Ah, e os fotógrafos também a prestarem um serviço discreto e eficaz.
Sei que muita coisa pode ser feita, mexendo primeiramente no processador... não das máquinas, mas, sim, das pessoas. Trabalhar a consciência!!! Difícil tarefa? Talvez! Mas, pela gostosura da vida bem celebrada, vale a pena!
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Que a graça e a paz de Nosso Senhor Jesus Cristo lhe acompanhem!
Seu comentário é precioso.
Muito obrigada!
Afetuosamente,
Clécia e Sandra