Vamos para a outra margem!

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Olhando o mundo, a comunidade em que vivemos, muitas vezes temos a sensação de estarmos num mar agitado e perturbado, em plena tempestade. E o pior que não é só sensação, estamos mesmo e nossa catequese está nesse meio.

E nessa confusão toda, quando achamos que já está tudo tão complicado, Jesus nos faz um convite: “Vamos para a outra margem!”, o mesmo convite feito aos discípulos naquele dia ao cair da tarde, quando se encaminham ao outro lado do lago, isto é, aos pagãos, àqueles que não conhecem a revelação do projeto de Deus. A travessia é cheia de perigos e conflitos, mas Jesus também participa da travessia.

E hoje nós Catequistas somos convidados, ou melhor, convocados a fazermos a travessia, ir para a outra margem, levar, anunciar Jesus às pessoas, a sair do nosso comodismo, indo ao encontro das famílias de nossos catequizandos.

É bom ver que estamos à caminho, mesmo com dificuldades, estamos indo ao outro lado do lago, indo ao encontro das famílias através das visitas e a cada visita, um momento de aprendizado, de crescimento na fé, de encontro com o próprio Cristo.


Encontramos famílias lindas, estruturadas, em que a travessia é bem tranqüila e anunciar Jesus ali fica fácil. Mas quando a calmaria é muita, prepare-se para as fortes tempestades.


Foi assim comigo, depois de uma visita tranqüila, fui ao encontro de outra família, visita essa que adiei ao máximo, pois já sabia o que me esperava.
Não sabia ao certo qual era a casa, parei o carro, fiz a “travessia” da rua onde havia uma mulher no portão (providência de Deus é claro), perguntei se era mãe do Gustavo, ela disse que sim, me identifiquei e fui convidada a entrar.


Eu não sabia por onde começar, pois ela não havia procurado a catequese, acho que nem sabia da existência de uma, cria seus sete filhos sozinha, cinco mora com ela, todos sem o batismo, com idade de 16, 15, 09, 03 e 02 mais ou menos. O motivo de minha visita foi o Gustavo, de 09 anos, o conheci num dia de lazer da catequese e tenho contato com ele na porta da Igreja onde fica olhando carros, é novo na área, mora apenas a três meses ali perto.


Antes mesmo do anuncio, a mãe começa a contar sua história, seu desespero, sua angústia e disse que estava lá fora pedindo a Deus uma luz, não sei se eu fui a luz, mas apareci ali naquele momento. Depois de ouvir tantas dificuldades, e ver quantas tempestades se passavam por ali, eu percebi que estava já do outro lado da margem, dentro de uma casa de pagãos.


Confesso que fiquei sem jeito de falar do amor de Deus meio a tanto sofrimento, pensei em ir logo preenchendo a ficha, tive medo, olhei pra minha Bíblia até então fechada e pensei: “Senhor, venha em meu auxilio!” e comecei a ler a passagem de Isaias 43.


As lágrimas rolavam copiosamente pelo rosto daquela mulher, quando disse a ela que meio a tantas tempestades, que Deus a amava muito e estava com ela, que ela não desanimasse e que a catequese estava ali para ajudá-la de alguma forma. Sai dali muito mal, pois sabia que ela agora precisava ver e sentir o amor de Deus em gestos concretos, pois estava sem luz, sem comida, com o aluguel atrasado, a pensão das duas filhas menores atrasadas, o Gustavo não conheceu o pai e foi um momento de desabafos, de confidências, mas dizia que ficaria firme, pois todos dependiam dela.

E quando fui à missa, ouvi o convite para irmos à outra margem, a vontade que tive foi de pegar aquele microfone e dizer que a outra margem estava ali debaixo do nosso nariz, era só atravessar a rua e ir ao encontro dessa família e nós ali recebendo Jesus na Eucaristia, que lindo, que desumano, chega a ser irônico. Desde a homília só fiz chorar e pensar naquela família, mas será que minhas lágrimas vão matar a fome ou amenizar um pouquinho toda aquela situação problemática daquela família? Não! Preciso fazer mais que chorar!

Precisamos sair da missa com o compromisso de mostrar "Quem é este homem, a quem até o vento e o mar obedecem à tantas famílias que estão vivendo esse "Mar" e "noite" com medo, sem perspectivas.
Esse "barco" que é o símbolo da comunidade de Jesus que navega pela história do povo está encalhado, porque nós estamos acomodados no nosso mundinho e com isso tanta gente ainda não conhece Jesus.

Vamos enfrentar a"tempestade",as dificuldades que se opõe à nossa missão e façamos a travessia junto com Jesus. Tem muita gente se perguntando: “Onde está Deus? Será que está dormindo?
Vamos “acordar” esse Deus que está adormecido em nós pra depois “acordar” o Deus na vida do próximo

E aí!: “Vamos para a outra margem?”

Imaculada Cintra
iccintra@hotmail.com
*Imaculada Cintra é catequista da Paróquia Nossa Senhora Aparecida - Capelinha, em Franca/ SP

1 comentários:

Anônimo disse...

Bastante significativo o texto, parabéns Imaculada!

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Que a graça e a paz de Nosso Senhor Jesus Cristo lhe acompanhem!
Seu comentário é precioso.
Muito obrigada!
Afetuosamente,
Clécia e Sandra

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